Eclesiastes – introdução detalhada
O livro de Eclesiastes é uma meditação profunda sobre a natureza efêmera da vida e a busca por significado em
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Nos versos 3 a 14, Paulo traz a preciosa revelação que nossa salvação foi elaborada na eternidade por Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito, antes mesmo do tempo ser criado. Seu propósito é nos fazer enxergar o maravilhoso conselho da Trindade e nos levar a compreender que nossa vida deve ser conduzida para o louvor da glória de Deus.
Para ajudar em nossa compreensão, dividiremos a reflexão em 3 partes, vendo sobre o amor do Pai, depois o amor do Filho e, por fim, o amor do Espírito Santo.
Estamos diante de um dos textos mais ricos de toda a Bíblia Sagrada. Nele, o apóstolo Paulo traz revelações estonteantes, que mostram um pouco do que ocorreu na eternidade, antes do badalar do primeiro segundo na história. É um hino de louvor, que percorre os versos 3 a 14 e compõe uma única sentença gramatical. No original, há o ponto final somente após o verso 14. Nessa sentença gramatical, Paulo discorre sobre o amor de Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo por cada um de nós, os salvos em Cristo. Estamos diante do plano eterno da Trindade ou, como alguns o chamam, o decreto eterno da salvação.
Para compreendermos melhor os argumentos de Paulo, caminharemos sobre a obra de cada pessoa da Trindade e veremos seu papel em nossa salvação. Dos versos 3 a 6, Paulo fala sobre a obra do Pai; nos versos 7 a 12, temos a descrição da obra do Filho e, nos versos 13 e 14, o apóstolo aborda o papel do Espírito Santo.
Ao falar sobre a obra de Deus Pai, nos versos 3 a 6, Paulo revela que nossa salvação é fruto da livre e soberana escolha de Deus. Mas antes de desenvolver o assunto, Paulo adora e glorifica a Deus de uma maneira mais geral. No verso 3, ele declara que Deus é bendito, uma expressão de louvor e adoração, cujo significado é: todo louvor, glória e honra sejam dados a Deus. A razão de Paulo iniciar o verso 3 com a expressão bendito é bastante simples. Deus é a origem e o doador de toda graça que experimentamos. Deus é quem derrama chuvas dos céus, é quem renova sobre nós diariamente sua misericórdia e nos presenteou com a dádiva da salvação através de Jesus Cristo, seu Filho.
Paulo segue argumentando que Deus Pai é digno de receber nosso louvor e adoração porque nos concedeu bençãos espirituais nas religiões celestiais. Essas bençãos dizem respeito a 9 dádivas que Deus Pai nos concedeu através da obra perfeita de Jesus Cristo. Fomos feitos fieis a Deus (v. 1), recebemos a graça da proteção e a paz com Deus (v. 2), fomos escolhidos para a salvação (v. 4), fomos adotados à família de Deus (v. 5), nossa dívida foi paga (v. 7), fomos libertados da culpa, do poder e da influência do pecado (v. 7), tivemos os olhos do coração abertos para compreender a obra e a importância de Jesus como a pessoa mais relevante de toda a história (vv. 8-10), fomos feitos herança de Deus (v. 11) e recebemos o Espírito Santo, como a morada de Deus em nós, que também é a garantia de que nossa completa salvação ocorrerá (vv. 13-14). Essas 9 dádivas expressam as bênçãos espirituais que recebemos gratuitamente de Deus Pai. Por isso, Deus é bendito e digno de todo louvor, honra, glória e adoração.
A expressão regiões celestiais significa que nossas bençãos foram decretadas nos céus, onde Deus habita, antes da fundação do mundo. Na primeira aliança, que conhecemos também como Antigo Testamento, as bençãos de Deus sobre seu povo eram materiais. Eram bençãos de terra, fartura, saúde e prosperidade. Essas bênçãos materiais eram sombras e tipos de bençãos superiores, as bênçãos espirituais, que se cumpririam na nova aliança. As bençãos espirituais foram decretadas nas regiões celestiais e seriam concedidas a nós através da obra perfeita e suficiente de Jesus Cristo. É por isso que Paulo conclui o verso 3 dizendo que as bençãos espirituais decretadas nas regiões celestiais ocorrem somente através de Cristo, o escolhido de Deus Pai para ser nosso representante e mediador de todas as dádivas.
Nos versos 4 a 6, Paulo trata em detalhes do amor de Deus Pai por seu povo. Em primeiro lugar, ele argumenta que Deus escolheu um povo para si. Paulo desenvolve o tema da eleição de maneira clara, simples e profunda, dividindo seu argumento em 5 partes.
Na parte 1, Paulo fala sobre o tempo em que ocorreu nossa eleição. No verso 4, Paulo argumenta que fomos escolhidos por Deus antes da fundação do mundo. Paulo está dizendo que, antes do primeiro segundo correr no curso do tempo, antes mesmo do tempo ser criado e antes da batida de asas do primeiro anjo criado, Deus nos amou e nos escolheu para Ele. Essa verdade que extrapola a compreensão humana é confirmada por outros textos bíblicos. Em 2 Timóteo 1:9, Paulo disse que Deus nos salvou e nos chamou com santa vocação, não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos, e manifestada agora pelo aparecimento de nosso Salvador Cristo Jesus. O apóstolo Pedro nos disse em sua 1 carta que não foi mediante coisas perecíveis, como prata ou ouro, que vocês foram resgatados da vida inútil que seus pais lhes legaram, mas pelo precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro sem defeito e sem mácula. Ele foi conhecido antes da fundação do mundo, mas foi manifestado nestes últimos tempos, em favor de vocês (1 Pedro 1:18-20). O próprio Jesus tinha a absoluta convicção que Deus lhe deu um povo antes da fundação do mundo. Ele disse: porque eu desci do céu, não para fazer a minha própria vontade, mas a vontade daquele que me enviou. E a vontade de quem me enviou é esta: que eu não perca nenhum de todos os que ele me deu; pelo contrário, eu o ressuscitarei no último dia (João 6:38-39). Jesus afirma que seu nascimento e obra tinha o propósito exclusivo de cumprir a vontade de seu pai, que escolheu um povo para si antes dos tempos eternos.
Na parte 2, Paulo fala sobre o propósito da eleição. No verso 4, ele argumenta que Deus Pai nos escolheu para sermos santos e irrepreensíveis diante dele. A palavra santo significa alguém que foi separado da morte para a vida, da escuridão para a luz, da cegueira para a visão e da condenação para a salvação. Já a palavra irrepreensível era também utilizada para descrever as características dos animais que seriam ofertados nos sacrifícios do Tabernáculo e no Templo do Antigo Testamento. Os animais sacrificados deviam ser sem mancha, sem defeito e adequados para serem oferecidos como substitutos pelo pecado. Ao fazer uso dessas palavras santo e irrepreensível, Paulo está dizendo que Deus salva seu povo para que vivam de maneira pura e sem mancha em Sua presença. A eleição sempre produz frutos de justiça. O filho salvo de Deus viverá uma vida limpa diante de Deus, que odeia o mal, se arrepende dos erros e que luta para viver segundo a vontade de seu Rei. A eleição é evidenciada na vida do povo de Deus através da santidade e da busca constante para agradar a seu Senhor e Salvador.
Na parte 3, Paulo fala sobre a motivação para a eleição. No fim do verso 4 e início do verso 5, Paulo argumenta que fomos escolhidos ou predestinados por Deus em razão de Seu amor. O amor de Deus foi a motivação para nossa eleição. Antes mesmo de criar qualquer coisa, Deus livre, voluntária e gratuitamente resolveu nos amar. Isto é o grande mistério da graça salvadora, que é o fato de sermos amados por Deus sem merecimento. Essa grande revelação deve ser recebida por nós com espanto e gerar adoração e louvor a Deus.
Na parte 4, Paulo fala sobre o resultado da eleição. No verso 5, ele diz que Deus nos predestinou para ele. Paulo compreende que o grande desejo de Deus com a eleição é que vivamos para ter intimidade com nosso criador e salvador. Deus destinou que nossa vida encontraria alegria verdadeira e cheia de paz na medida que desenvolvemos intimidade com Ele. Em seu livro Confissões, Agostinho criou uma expressão que sintetiza esse argumento. Ele disse: Fizeste-nos para ti e o coração do homem não encontrará descanso enquanto não descansar em ti.
Deus deseja que nos relacionemos com Ele, que tenhamos vida abundante em Sua presença, que desfrutemos de intimidade através da oração, da meditação em Sua palavra e da comunhão com seu povo. Fomos salvos para desfrutar de intimidade e alegria em Sua presença. Esse é o resultado maior de nossa eleição. Não podemos confundir o resultado da eleição com a prática de rituais religiosos e de formalidades institucionais. Embora seja natural e esperado que o salvo participe de uma comunidade de fé, como parte do povo de Deus, e sirva aos outros com seus dons, o objetivo de Deus é que tenhamos comunhão e intimidade com ele. Não abra mão desse grande privilégio.
Na parte 5, Paulo conclui seu argumento sobre a eleição falando sobre seu fundamento ou base, que é a Graça. Fomos escolhidos por Deus antes da fundação do mundo e antes dos tempos eternos, baseado na Graça de Deus. No verso 6, Paulo diz que nossa eleição é para louvor da graça de Deus e que ele nos concedeu gratuitamente no Amado. A graça é presente imerecido, é um dom distribuído livremente por Deus a quem ele desejar. A graça é a base e o fundamento de todas as dádivas concedidas por Deus. Não merecemos a salvação, não somos dignos do amor, do perdão e da misericórdia divina. Ainda assim, Deus derrama sobre nós sua compaixão, ternura e redenção. Recebemos de Deus graça sobre graça, como a base e o fundamento de nossa eleição. Nossa vida deve responder a tamanha benção com gratidão e consagração.
Em segundo lugar, Paulo trata do amor de Deus Pai por seu povo falando da adoção. No verso 5, o apóstolo traz a preciosa verdade de que fomos feitos filhos de Deus, predestinados para sermos adotados como seus filhos. Através da obra perfeita de Jesus Cristo, fomos inseridos à família de Deus e passamos a gozar dos direitos dos filhos legítimos. Podemos chamar Deus de nosso pai.
A adoção, tanto no contexto de Paulo no primeiro século, quanto na cultura ocidental atual, garante aos filhos adotados os mesmos direitos dos filhos nascidos em casa. A Bíblia nos chama de herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo de todos os tesouros celestiais (Rm. 8:17; Ef. 3:6). Temos a garantia de que, assim como Cristo ressuscitou dentre os mortos, também ressuscitaremos, receberemos vida eterna e seremos abençoados com a participação nos novos céus e nova terra para todo o sempre (1 Cor. 15:51-57; Ap. 7:14-17; 21:1-7). Além das bençãos futuras, os filhos adotados por Deus experimentam no presente a garantia do sustento de Deus, a segurança da vida eterna e a doce comunhão com seu criador (Mt. 6:26; Rm. 8:38-39; Gl. 4:6).
Nossa próxima reflexão abordará os versos 7 a 12, onde veremos a revelação do amor do Deus Filho, que é nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Esperamos por você.
Os argumentos de Paulo nesses versos são riquíssimos e nos convocam a pelo menos 6 ações.
Em primeiro lugar, devemos prestar a Deus louvor a adoração. Deus é digno de receber glória, pois é a origem de todo bem que recebemos. De suas mãos somos contemplados com sustento diário, com a dádiva da salvação, com a presença do Espírito Santo, com a libertação do poder, da culpa e da condenação do pecado. Deus Pai, através de Jesus Cristo, quitou nossa dívida e nos justificou. Além disso, abriu nossos olhos espirituais para enxergarmos as implicações da obra perfeita e maravilhosa de Jesus Cristo pelos seus eleitos. Diariamente devemos bendizer, louvar e adorar o nome de Deus por todo bem que realizou e ainda realiza em nossas vidas. Devemos substituir as queixas, a ingratidão, a murmuração e boa parte dos pedidos por orações de louvor a Deus.
Em segundo lugar, precisamos ser agradecidos a Deus pelas ricas bençãos que recebemos diariamente de suas mãos. Enquanto muitas pessoas se preocupam com as bençãos materiais, Deus garantiu aos seus filhos a abundância das bençãos espirituais nas regiões celestiais. Recebemos de suas mãos graça sobre graça e a garantia de que, em Cristo Jesus, fomos feitos os cidadãos mais prósperos de todos os tempos.
Em terceiro lugar, podemos viver livres da tirania da produtividade e da opinião alheia, pois Deus nos amou na eternidade baseado em sua livre graça. Esse amor de Deus, que nos alcançou antes dos tempos eternos, nos deixa livres dos fardos impostos por mãos humanas e da pesada carga de viver para impressionar outros, a fim de recebermos migalhas de amor e aceitação. Deus nos ama apesar de quem somos e a despeito do que fazemos. Ele nos chama para desfrutar de seu amor e descansar em sua bondade. Ele não impõe sobre nós fardos pesados. Antes, deseja que vivamos a relação de leveza e de descanso, como fruto de sua maravilhosa graça.
Em quarto lugar, pelo fato da condenação, culpa e poder do pecado terem sido quebrados, podemos viver para revelar ao mundo nossa eleição. Recebemos de Deus a condição para viver vidas consagradas, separadas da impureza e dedicadas a ele. Podemos cumprir nossa missão de sermos sal e luz no mundo, demonstrar obras de misericórdia, servir a quem sofre, ajudar outros a crescerem na relação com Deus e colocar em prática o que Paulo prescreve em Romanos 12.1-2:
Portanto, irmãos, pelas misericórdias de Deus, peço que ofereçam o seu corpo como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus. Este é o culto racional de vocês. E não vivam conforme os padrões deste mundo, mas deixem que Deus os transforme pela renovação da mente, para que possam experimentar qual é a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.
Em quinto lugar, devemos investir a melhor parte do nosso tempo para construir aquilo que possui valor eterno, que é desenvolver intimidade com Deus. Fomos criados para ter comunhão com ele e, na medida em que o conhecemos melhor, temos nossas vidas transformadas. Deus deseja nos conceder o melhor, tornar nosso coração próspero e nos fazer encontrar a verdadeira paz que excede todo entendimento. Aproveite esse privilégio e abra a bíblia, medite em suas palavras e desfrute de relacionamento com Deus através da oração. Faça isso algumas vezes por dia. Reduza ao máximo seu consumo de mídias sociais, de tempo na TV e no smartphone, e dedique-se a conhecer e se relacionar com Deus. Você será o maior beneficiado. O Salmo 16 nos diz que:
Tu me farás ver os caminhos da vida; na tua presença há plenitude de alegria, à tua direita, há delícias perpetuamente.
Em último lugar, aproveite a paternidade de Deus para descansar. Você e eu não somos mais órfãos. Recebemos a benção da adoção. Fomos feitos filhos de Deus. Temos a garantia de que somos co-herdeiros com Cristo. Todas as dádivas concedidas a Jesus serão partilhadas conosco. Além de termos a certeza das bençãos futuras, Deus, nosso Pai, nos sustenta no dia a dia. Leve a ele seus fardos, confesse seus temores, busque a sábia orientação de Deus e peça direção para decisões difíceis. Nosso Pai garantiu que jamais nos abandonará, antes ele revelou:
Eu é que sei que pensamentos tenho a respeito de vocês, diz o SENHOR. São pensamentos de paz e não de mal, para dar-lhes um futuro e uma esperança. Então vocês me invocarão, se aproximarão de mim em oração, e eu os ouvirei. Vocês me buscarão e me acharão quando me buscarem de todo o coração. Serei achado por vocês, diz o SENHOR, e farei com que mude a sorte de vocês. (Jeremias 31:11-14)
Querido Pai, não há projeto em toda a história humana que se compare a beleza e grandeza de seu plano de amor para nos limpar, transformar e libertar. Obrigado por ter nos amado antes do badalar do primeiro segundo no tempo, por ter nos adotado como filhos e garantir que cuidará do nosso futuro em segurança. Que seu amor nos constranja e nos leve a viver uma vida de separação do pecado, de consagração à sua vontade e de testemunho aos que nos cercam.
Que nossa vida seja para o louvor da glória do seu nome. Em Cristo, Amém.
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